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Portugal empata com a Hungria e prova o sabor da negligência

A Seleção de Portugal consentiu esta terça-feira um empate no relvado do Estádio de Alvalade (2-2) frente à Hungria, um resultado que teve um azedo sabor a negligência por parte de uma seleção e de um selecionador que voltou a cometer erros que já antes só não deram resultados negativos porque os ventos da fortuna sopraram então a favor da Turma das Quinas.

Desta feita, frente ao conjunto magiar, os 47.874 espectadores que estiveram em Alvalade testemunharam a mais perigosa das ilusões: a de que a vitória está garantida quando, na verdade, tudo está por decidir. Portugal e a Hungria ofereceram um dos mais cruéis espetáculos do futebol – a partida que se ganha com justiça e qualidade depois de se dar a volta ao resultado e, no fim, com a mesma justiça e qualidade mas para o lado da Hungria, se perde sem apelo nem agravo.

As coisas nem começaram da melhor forma já que o conjunto húngaro, logo aos 08′ minutos, na sequência de um pontapé de canto, conseguiu um golo aparentemente fácil, com Szalai a apontar de cabeça um golo em que toda a defesa de Portugal foi batida pelo posicionamento dos jogadores magiares, aparecendo Szalai ao segundo poste a enviar a bola para dentro da baliza à guarda de Diogo Costa.

‘Bis’ de Ronaldo colocou Portugal a um passo do Mundial

Só que Portugal acreditou e, empurrado pelo seu capitão, Cristiano Ronaldo, a jogar no estádio que o viu começar no futebo “a sério”, acabou mesmo por dar a volta a resultado, com um recital de eficácia pura. Dois golos, o primeiro dos quais ao minuto 22′, em resposta a um cruzamento de Nelson Semedo a partir do lado direito do ataque, e o segundo ao minuto 45’+03′ após passe de Nuno Mendes, permitiam a Cristiano Ronaldo passar a somar 143 em jogos da Seleção e a Portugal ficar em condições para garantir logo ali, em Alvalade, o passaporte para o Mundial de 2026.

Mas o futebol tem um gosto especial por ensinar lições amargas. A segunda parte foi uma lição de como a complacência pode corroer a solidez. Portugal recuou, o selecionador Roberto Martinez fez algumas alterações menos felizes e passou claramente para dentro das quatro linhas a ideia que estava contente com a gestão do resultado. Entregou por isso Portugal a iniciativa do jogo a uma equipa húngara que nunca se deu por vencida e no final ainda disse Roberto Martinez que Portugal tinha falhado na forma como jogou nos últimos 10 minutos.

Aos poucos, a pressão aumentou. Os passes ficaram preguiçosos, as transições defensivas perderam urgência e Portugal falhou sim, mas porque deixou de assumir o comando do jogo.

Gestão antes de tempo deu mau resultado para Martinez

E então, veio o inevitável. Aos 90’+01′ minutos, Szoboszlai, o tal jogador húngaro que já na hungria havia pedido a camisola ao seu ídolo Cristiano Ronaldo, apareceu bem colocado na área lusa a responder bem a um cruzamento rasteiro, ao segundo poste, fugindo da marcação de Semedo, limitando-se a encostar e a ser também ele eficaz, empatando a partida quando Portugal já não tinha tempo nem ideias para fazer aquilo que raramente fez ao longo de todo o jogo, que foi assumir realmente a partida sem dar possibilidades de resposta a um adversário claramente inferior mas que teve o mérito, a Hungria, de acreditar até ao fim.

O golo de Szoboslai gelou as bancadas de Alvalade e o silêncio que caiu sobre Alvalade foi mais eloquente que qualquer grito. De repente, os dois golos de Cristiano Ronaldo sabiam a pouco e a garantia de apuramento, que estava ao alcance da mão, evaporou-se. Pouco depois o apito final do árbitro sérvio soou como uma reprimenda, os jogadores lusos recolheram rapidamente aos balneários e sobre o relvado de Alvalade ficaram os húngaros que, para os cerca de mil adeptos que se concentraram no topo norte do Estádio de Alvalade, celebraram o ponto roubado como uma vitória – e para eles, foi.

Portugal, que já frente à Irlanda no passado sábado só venceu com um golo no derradeiro minuto da partida por Rúben Neves, ficou desta feita com o amargo sabor de uma oportunidade desperdiçada. O apuramento nem sequer estará em causa, até porque Portugal precisa apenas de garantir um ponto em um dos dois jogos que terá ainda que realizar, na Irlanda, e depois no Estádio do Dragão frente à Arménia, mas mais do que a oportunidade perdida para tudo estar já resolvido, é a forma negligente como se permitiu o adiamento de uma situação que esteve nas mãos da Turma das Quinas.

Jogadores como Pedro Gonçalves ou Trincão, nem sequer entraram em campo, Nuno Mendes saiu para dar o lugar a Nuno Tavares e Bernardo Silva cumpriu os 90 minutos em campo quando já frente à Irlanda ficou claro que não está propriamente no seu melhor momento de forma. Deste modo, a lição está dada: no futebol de alto nível, noventa minutos são noventa minutos. E a negligência, mesmo que apenas de alguns, é paga por todos e com o preço mais caro – pontos que escapam e uma qualificação que se adia.

Ah… e a continuar desta forma, a viagem aos Estados Unidos, México e Canadá, os países onde irá decorrer o Mundial de 2026, poderá resultar num enorme amargo de boca para a Seleção de Portugal, a mesma que é apontada como uma das favoritas à vitória final da competição.

texto: Jorge Reis
fotos: Diogo Faria Reis

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