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Golo da camisola 21 dá vitória a Portugal após exibição sofrível

Um golo conseguido com vontade e garra por Rúben Neves, o jogador que passou a envergar a camisola 21 que era do malogrado David Jota, permitiu a Portugal garantir uma tão importante quanto difícil vitória sobre a República da Irlanda no jogo disputado este sábado no Estádio de Alvalade, em Lisboa, referente à fase de apuramento para o Mundial de 2026. A exibição da Turma das Quinas ficou muito aquém do que era esperado pela grande maioria dos 48.821 adeptos que encheram as bancadas de Alvalade, entre os quais estiveram cerca de dois mil irlandeses, e Portugal até teve oportunidade para fazer mais e melhor, tendo o “capitão” Cristiano Ronaldo falhado uma grande penalidade ao minuto 74′, acabando a vitória por chegar quando já poucos acreditavam, no primeiro de sete minutos de compensação dados pelo árbitro, quando Rúben Neves respondeu da melhor fora a um cruzamento de Francisco Trincão.

E a verdade é que a estratégia adoptada pelo selecionador Roberto Martinez voltou a ficar muito aquém do que Portugal pode e sabe, tendo surgido sobre o relvado de Alvalade uma formação com Cristiano Ronaldo como o elemento mais avançado numa formação que lateralizou o jogo em demasia, levando a bola da direita para a esquerda e da esquerda para a direita, ao jeito da aproximação da baliza adversária num jogo de andebol, mas sem conseguir verticalizar o jogo ou criar desequilíbrios a partir dos flancos. Já do lado da Irlanda, para quem a conquista de um ponto em Portugal foi sempre visto como algo positivo, quase que conseguiam esse objectivo, perante enorme apatia e pouca imaginação da nossa Seleção.

Olhando para a histórico dos seis embates anteriormente realizados entre Portugal e Irlanda o número de empates (três) surgia maioritário, para além das duas vitórias lusas e um triunfo irlandês. Portugal colocava aparentemente uma equipa com capacidade suficiente para levar de vencida a República da Irlanda, com Diogo Costa entre os postes, Dalot, Rúben Dias, Gonçalo Inácio e Nuno Mendes na linha defensiva, ainda Ruben Neves, Vitinha, Bruno Fernandes e Bernardo Silva, aparecendo na frente Pedro Neto e Cristiano Ronaldo. Do outro lado, a seleção irlandesa surgia com o guarda-redes Kelleher, apoiado por uma primeira linha de três centrais — Collins, O’Shea e O’Brien —, com quatro elementos no meio-campo — Manning, Molumby, Cullen e Coleman — aparecendo mais na frente Ebosele, Ferguson e Ogbene, mas apenas quando Portugal permitia transições à seleção forasteira.

Portugal sem chave para abrir a defesa irlandesa

Portugal assumiu naturalmente o controlo do jogo, com a capacidade de ter mais posse de bola, mas mais do que assumir a história da partida, foi preenchendo os espaços que a Irlanda permitia num jogo de bloco baixo, a dar espaço a Portugal mas fechando os caminhos para a baliza de Kelleher. Perante isto, Portugal foi-se instalando no meio-campo irlandês, Pedro Neto passou a surgir muitas vezes como um lateral direito nas acções defensivas, Nuno Mendes assumia o lado esquerdo, e Cristiano ficava como o homem mais adiantado, numa equipa sem imaginação nem capacidade para desmontar a formação contrária. Faltavam por isso a Portugal iniciativas eficazes para se aproximar da baliza contrária onde mandava o guarda-redes titular do Brentford.

Ao minuto 17′ Cristiano Ronaldo enviou a bola ao poste esquerdo da baliza irlandesa e na recarga, com a baliza à sua mercê, Bernardo Silva rematou sem nexo, levando a bola a sair pela linha de fundo quando o mais fácil parecia ser o golo que não aconteceu. Pouco depois, ao minuto 21′, os adeptos no Estádio de Alvalade levantaram-se dos seus lugares para um enorme aplauso naquele minuto que lembrou Diogo Jota, o jogador internacional português que, no dia 3 de Julho, morreu num acidente de viação, na estrada espanhola A-52, na localidade de Cernadilla, na província de Zamora, quando seguia acompanhado pelo seu irmão André Silva, também ele falecido no acidente.

Os adeptos portugueses continuavam a acreditar que o golo iria surgir a favor das cores da Turma das Quinas, mas a verdade é que o primeiro tempo passou sem que surgisse sequer uma oportunidade digna desse nome. Portugal teve mais bola mas com um jogo pobre, sem conseguir encontrar a chave do cofre. Já a Irlanda, sempre organizada em bloco baixo, foi fechando os caminhos para a sua baliza e, a espaços, ganhou aqui e ali algumas oportunidades de conseguir abeirar-se da baliza de Diogo Costa. A linha média de Portugal, sem imaginação nem rasgo, com Bernardo Silva muito abaixo do esperado, e Bruno Fernandes a falhar muitos passes, mas também muitas vezes a receber passes “à queima”, sem capacidade de controlar a bola e dar continuidade ao jogo, explicavam parte da incapacidade de Portugal, ficando a expectativa sobre a forma como Roberto Martinez poderia mexer no onze da Seleção de Portugal.

Seleção de Martinez sem soluções para mais

E a primeira alteração surgiu mas de uma forma menos esperada, com a entrada de Renato Veiga para o lugar de Gonçalo Inácio. Sem espaços, Portugal começava então a apostar em remates de longe, como aconteceu ao minuto 60′, quando Rúben Neves desferiu um remate em força de fora da área, obrigando o guarda-redes Kelleher a esticar-se para impedir o poderia ter sido o primeiro golo luso. O golo não surgiu e Roberto Martinez voltou a mexer, apostando agora nas entradas de Nélson Semedo por troca com Diogo Dalot, ainda Francisco Trincão para a saída de Vitinha e Rafael Leão para o lugar de Pedro Neto. Do lado da Irlanda entravaao minuto 64′ Mikey Johnston para o lugar de Festy Ebozele.

Portugal continuava a jogar à beira da grande-área irlandesa mas aparentemente sem consequências. Só que, ao minuto 73′, depois de um remate de Francisco Trincão, que nem levava a direção da baliza, a trajectória da bola foi cortada pelo braço de O’Shea, levando o árbitro a assinalar de imediato a grande penalidade. O VAR confirmou o castigo máximo, o público chamou por Cristiano Ronaldo para bater o penálti, e o capitão da Turma das Quinas, que foi ficando fora da grande-área, transmitindo a ideia de que não estava muito motivado para assumir a conversão do penálti, acabou por responder ao apelo do público. Colocada a bola na marca dos onze metros, Cristiano correu para a bola, bateu a bola para o centro da baliza a meia-altura, sem grande força, e sobre a linha de golo o guarda-redes Kelleher, que esperou até ao momento do remate para escolher atirar-se para o seu lado direito, acabou por defender com o pé esquerdo, negando o golo a Cristiano Ronaldo.

A cerca de 15 minutos do minuto 90′ aumentava o nervosismo nas bancadas, e não se via a partir do banco qualquer iniciativa para mudar o rumo da partida. Do lado da Irlanda, apenas por uma vez foi dado espaço para que Rafael Leão conseguisse entrar em velocidade nas costas da defesa da turma forasteira, e mesmo assim o lance foi anulado, e um ou outro cruzamento ensaiado do lado direito do ataque, por Nuno Mendes ou Francisco Trincão, perdia-se ou com a bola a sair pela linha de fundo ou na barreira de pernas irlandesas instalada por uma formação que apostava tudo em não consentir qualquer golo.

Obrigado Diogo Jota pela inspiração!

Ao minuto 86′ o selecionador Roberto Martinez tirou finalmente Bruno Fernandes para permitir a entrada de Gonçalo Ramos e cinco minutos depois, no primeiro de sete minutos de compensação dados pela equipa de arbitragem, Francisco Trincão respondeu a um pedido que se soube no final da partida que Rúben Neves lhe fez para colocar a bola para a cabeça junto ao primeiro poste. O cruzamento saiu a contento, Rúben Neves apareceu no sítio certo e no momento certo e, de cabeça, antecipou-se a Kelleher enviando a bola para o fundo das redes da baliza da Irlanda, desfazendo finalmente nulo que teimava em permanecer neste embate entre portugueses e irlandeses do Grupo F de apuramento para o Mundial de 2026.

Com um cabeceamento pleno de garra e vontade, Rúben Neves, no primeiro jogo realizado em Portugal em que alinhou com a camisola 21 que era do seu amigo Diogo Jota, estreou-se a marcar pela nossa Seleção, dando a vitória a Portugal e deitando por terra, finalmente, a estratégia da Irlanda que pretendia levar um ponto de Alvalade. Rúben Neves apontou para o céu, para a tal estrelinha que Portugal tem a olhar pela nossa Seleção, mostrou a tatuagem que possui no gémeo em que abraça o seu eterno amigo e ali deixou um agradecimento muito especial pela inspiração que permitiu aquele golo. Pouco depois chegava o final do jogo, com Portugal a somar mais três pontos e a conseguir o objectivo prioritário que era a conquista dos três pontos, depois de um jogo sofrível que permitiu, ainda assim, ficar muito perto de confirmar desde já o apuramento para o Mundial.

Os comandados de Roberto Martinez jogaram quase a passo, não construíram lances de ataque que justificassem a vitória, mas aquele cruzamento de Trincão para Rúben Neves em cima do final da partida permitiu a Portugal conquistar os três pontos de uma vitória sofrida e, há que o assumir, pouco merecida. O próximo compromisso da Turma das Quinas é na próxima terça-feira, uma vez mais em Alvalade, frente à Hungria.

texto: Jorge Reis
fotos: Diogo Faria Reis

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