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Tubarões Azuis de Cabo Verde rumam ao Mundial de 2026

Cabo Verde escreveu esta segunda-feira, 13 de outubro de 2025, uma das páginas mais douradas da história do seu desporto. Num Estádio Nacional a rebentar pelas costuras, perante um país que parou para vibrar com a sua Seleção, os “Tubarões Azuis” venceram o Essuatíni por 3-0 e carimbaram, pela primeira vez, um passaporte para um Campeonato do Mundo de Futebol. Não foi uma simples vitória, foi a materialização de um sonho que catapulta este pequeno arquipélago de pouco mais de 500 mil habitantes para o palco global do futebol em 2026, no Canadá, EUA e México.

O apito final desencadeou uma festa desenfreada que se estendeu das bancadas do estádio a todas as dez ilhas do arquipélago. O governo local tinha decretado tolerância de ponto, reconhecendo a magnitude histórica do momento, e o povo respondeu enchendo as ruas para celebrar os seus heróis. O presidente da FIFA, Gianni Infantino, não tardou a saudar o feito, classificando-o como “histórico” e antecipando o momento em que a bandeira de Cabo Verde será içada e o seu hino soará no que chamou de “melhor campeonato mundial de todos os tempos”. O lema nacional, “10 ilhas, uma nação, um sonho”, tornou-se, finalmente, realidade.

Conquista forjada em jogo e determinação

A partida decisiva, embora contra uma seleção tecnicamente inferior, foi um teste à paciência e à resiliência cabo-verdiana. O primeiro tempo mostrou uma equipa ansiosa, a dominar as ações mas a chocar repetidamente contra a compacta defesa do Essuatíni e as intervenções do seu guarda-redes, Khanyakwezwe Shabalala. O empate a zero no intervalo alimentava os nervos, mas a equipa regressou ao relvado com uma energia renovada.

Aos 48 minutos, a barreira foi rompida. Dailon Livramento, avançado que atua no Casa Pia de Portugal, aproveitou um ressalto na área após um canto e encostou a bola para o fundo da rede, desbloqueando o marcador e desencadeando a primeira euforia na cidade da Praia. A equipa, agora mais solta, sentenciou a qualificação apenas seis minutos depois. Aos 54, Willy Semedo apareceu no segundo poste para finalizar, de forma certeira, um cabeceamento de Diney Borges, ampliando a vantagem e afastando qualquer dúvida sobre o destino do encontro. Para selar a noite perfeita, aos 90+1 minutos, o veterano defesa Stopira, que já havia anunciado a sua despedida da Seleção, marcou o terceiro e último golo, proporcionando um momento de pura poesia desportiva e pondo um ponto final dourado na sua carreira internacional.

Esta vitória coroou uma campanha de qualificação notavelmente consistente. Ao longo de 10 jogos, Cabo Verde somou sete vitórias, dois empates e apenas uma derrota, terminando no primeiro lugar do Grupo D com 23 pontos, quatro à frente dos poderosos Camarões, que ficaram condicionados ao play-off. Com 16 golos marcados e oito sofridos, os Tubarões Azuis demonstraram uma solidez coletiva que foi a chave para o sucesso.

O sonho de um país insular

A dimensão histórica deste apuramento vai muito além do futebol. Cabo Verde tornou-se no segundo país com a menor população de sempre a conseguir qualificar-se para um Mundial de futebol, superado apenas pela Islândia em 2018. Com aproximadamente 525 mil habitantes, este feito é um testemunho do extraordinário poder do desporto para unir e projetar uma nação.

Além disso, Cabo Verde é agora o quarto país de língua oficial portuguesa a marcar presença na fase final do torneio, juntando-se ao Brasil, a Portugal e a Angola, que participou em 2006. Esta conquista coloca o pequeno arquipélago no mapa do futebol mundial, numa história de resiliência e orgulho que promete inspirar gerações futuras.

No comando técnico desta jornada épica está Pedro Brito, “Bubista”, que assumiu a seleção em 2020. É o seu nome que ficará para sempre ligado a esta conquista sem precedentes, o arquiteto de uma equipa que soube transformar o sonho em realidade.

A influência inquestionável do futebol português

A relação simbiótica entre o futebol de Cabo Verde e o de Portugal é um pilar fundamental para compreender este sucesso. Uma análise ao onze inicial e ao plantel que derrotou o Essuatíni revela uma ligação profunda ao campeonato português. Muitos dos heróis da qualificação desenvolvem o seu futebol em Portugal, tal como ilustramos na tabela abaixo.

JogadorClube em PortugalContribuição no Jogo
Dailon LivramentoCasa PiaMarcou o golo que desbloqueou o jogo (48′)
StopiraTorreenseMarcou o terceiro golo (90+1′)
Willy SemedoMarcou o segundo golo (54′)
Telmo ArcanjoVitória de GuimarãesEntrou como substituto

Esta ligação não é um fenómeno recente. A influência do futebol português em Cabo Verde é histórica e cultural. Como explicou o jornalista e historiador José Mário Correia, “até ao final do século passado […] não assistíamos ao campeonato francês, inglês, alemão, italiano, espanhol, etc.”. Durante décadas, a ligação ao futebol internacional era feita quase exclusivamente através dos “três grandes” – Benfica, Porto e Sporting –, cuja “febre” ainda hoje se mantém vivamente no arquipélago, com clubes locais a adotar os seus nomes e cores.

Esta proximidade cria um canal natural para o desenvolvimento de talentos. Muitos jogadores cabo-verdianos ou de origem cabo-verdiana, formados em Portugal ou a atuar nos seus escalões, encontram na seleção nacional não só um orgulho patriótico, mas também um trampolim para voos mais altos. Hoje, como notou José Mário Correia, “os ‘Tubarões Azuis’ são um trampolim […] hoje somos claramente mais conhecidos”. O facto de a língua comum e a compreensão tática, moldada pelo contexto do futebol português, facilitarem a integração e o trabalho do staff técnico é uma vantagem inegável que Bubista e a sua equipa souberam potenciar ao máximo.

O apuramento para o Mundial de 2026 é mais do que um feito desportivo; é um momento definidor para a identidade nacional cabo-verdiana. É a prova de que, com trabalho, união e uma ligação estratégica a uma das melhores escolas de futebol do mundo, não há sonhos pequenos demais. Os Tubarões Azuis não vão apenas para o Mundial fazer número. Vão para mostrar ao mundo a força de uma nação que, das suas dez ilhas, soube construir um só e indomável coração futebolístico.

Estrela da Amadora saudou os “seus” Tubarões Azuis

Logo que se soube da qualificação de Cabo Verde para o Mundial de 2026 o Estrela da Amadora difundiu um comunicado nas redes sociais em que felicitou a Seleção cabo-verdiana e em particular dois dos seus jogadores, Jovane Cabral…

O Estrela da Amadora felicita Lopes Cabral e Jovane Cabral pela histórica qualificação de Cabo Verde para o Mundial 2026, a primeira da história do país!
Com orgulho, vemos dois dos nossos a fazerem parte deste feito inesquecível, levando o nome de Cabo Verde e do Estrela ao maior palco do futebol mundial.
Parabéns, Lopes Cabral e Jovane. Parabéns, Cabo Verde! 🌍🇨🇻

A festa das gentes de Cabo Verde acabou assim por se fazer também aqui em Portugal, e nomeadamente junto do Estrela da Amadora, na Reboleira, um local, entre tantos outros, onde vive uma grande comunidade cabo-verdiana e onde o nosso fotojornalista Diogo Faria Reis registou as imagens da alegria de uma diáspora de Cabo Verde que tem justificadas razões para celebrar com orgulho o feito ímpar da sua Seleção. Parabéns Cabo Verde!

texto: J.R. / LusoNotícias
fotos: Diogo Faria Reis

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