Em Guimarães, onde o Estádio D. Afonso Henriques é fortaleza habitualmente inexpugnável, pela força da equipa que ali joga mas também pelo apoio férreo dos seus adeptos, o Benfica de José Mourinho encenou, este sábado, uma demonstração de poder tático que resultou numa vitória clara por 3-0 sobre o Vitória. A partida, que na primeira parte se arrastou numa coreografia de equilíbrio e indecisão, transformou-se após o intervalo num monólogo de força encarnada, ditado por uma intervenção cirúrgica do seu técnico.
A primeira parte foi um promessa por cumprir, um espetáculo de fumo sem fogo. O Benfica, com o mesmo onze que já utilizara frente ao Arouca, na anterior jornada da I Liga, foi dono da posse de bola, circulava o esférico com paciência, mas esbarrava numa organização vimaranense que se fechava como um ouriço. As aproximações à baliza de Juan Castillo eram escassas e inócuas: um remate longo de Prestianni, facilmente defendido, e uma finalização de Sudakov que saiu pelas laterais eram o retrato fiel de um Benfica estéril.
Do outro lado, à beira da baliza à guarda de Trubin, o Vitória ameaçava de forma pontual através de arremessos de longa distância, como os de Telmo Arcanjo e Fabio Blanco, que exigiram atenção mas não verdadeiro desespero ao guardião ucraniano dos encarnados. O intervalo chegou por isso com o ecrã a zeros e a sensação de que tudo estava ainda por decidir.


Segunda parte ditou o arraso
do Vitória em quinze minutos
O que se seguiu depois do descanso foi uma lição de como mudar a história de um jogo. José Mourinho, como um maestro que ajusta cada instrumento, operou duas mudanças que virariam o jogo de pernas para o ar: a entrada de Leandro Barreiro e Andreas Schjelderup por troca com Sudakov e Prestianni, curiosamente dois dos elementos que antes tinham sido dos mais activos na movimentação do Benfica. O impacto das alterações foi imediato e avassalador. O Benfica regressou ao relvado com uma fome renovada, pressionando mais alto e encontrando os espaços que antes não existiam. Aos 54 minutos, a pressão cristalizou-se no marcador. Dodi Lukebakio, desperto e incisivo na segunda parte, cobrou um pontapé de canto com precisão cirúrgica para a cabeça de Tomás Araújo, que, no primeiro poste, desviou a bola para as redes vimaranenses abrindo a contagem.
O desastre para a equipa da casa aprofundou-se apenas dois minutos depois. Num lance de pura inexperiência, o avançado espanhol Fabio Blanco cometeu uma entrada tardia e com os pitões sobre Leandro Barreiro, o homem que Mourinho lançara ao intervalo. O árbitro João Pinheiro não hesitou e mostrou o cartão vermelho direto, pela dureza extrema da entrada do jogador do Vitória, deixando os vimaranenses a jogar com menos um durante todo o resto do desafio. Num abrir e fechar de olhos, o Vitória viu não só a baliza tremer como a sua esperança minguar drasticamente.
Com o vento totalmente a seu favor, o Benfica não perdoou. Aos 62 minutos, uma jogada coletiva de rara beleza, iniciada por Richard Ríos e envolvendo Lukebakio e Fredrik Aursnes, chegou a Samuel Dahl na área. O lateral, com um remate potente e rasteiro pelo buraco da agulha, fez a bola embater na barra antes de bater nas redes, celebrando assim o seu primeiro golo ao serviço do clube. O segundo golo, resultante de um domínio absoluto, selou de vez o destino do encontro.



João Rêgo estreou-se
a marcar de águia ao peito
Nos minutos finais, com o jogo completamente controlado, eis que surge um novo herói. Aos 87 minutos, Schjelderup, já entrado no decorrer da segunda parte, encontrou Enzo Barrenechea à entrada da área. O remate do argentino foi bem defendido por Juan Castillo, mas a bola sobrou, preciosa, para o jovem João Rego. O petiz, com a frieza de um veterano, apareceu no sítio certo e na hora certa para carregar para o fundo das malhas, marcando o seu primeiro golo na Liga e fechando o marcador em 0-3.
Pouco depois soou o apito final, momento em que foram visíveis as cenas de comunhão total entre a equipa benfiquista e os seus adeptos, que tomaram de assalto o castelo de Guimarães. Para o Benfica, tinha sido possível a terceira vitória consecutiva, um resultado que injeta nova confiança e que mantém as águias coladas ao duo da frente, a um ponto do FC Porto e do Sporting. Para o Vitória, ficou a amargura de uma segunda derrota seguida e a reflexão sobre um 11.º lugar que fica aquém das suas ambições.
Quanto ao culpado desta situação final, só tem um nome: José Mourinho. O técnico do Benfica, em apenas 45 minutos, explicou porque a sua fama o precede ao conseguir que a equipa que saiu dos balneários após o intervalo aparecesse sobre o relvado irreconhecível, e logo depois de tirar dois dos jogadores que pareciam imprescindíveis dentro das quatro linhas. Transformou assim o técnico dos encarnados o seu onze numa máquina eficiente que, quando comandada, mostrou saber como poupar em palavras e falar em golos.

O Benfica avança agora para um jogo da Liga dos Campeões, na próxima quarta-feira, no Estádio da Luz frente ao Bayer Leverkusen, equipa que até agora somou dois empates em três jogos, frente ao Copenhaga (2-2) e ao PSV Eindhoven (1-1), e uma derrota copiosa na recepção ao PSG, formação que foi à Alemanha vencer por 7-2. Já o Vitória de Guimarães, jogará no próximo sábado, 22, de novo no Estádio Afonso Henriques frente ao Mortágua, em partida da quarta eliminatória da Taça de Portugal.









