Se há alguns anos na fase final do século XX, quiséssemos encontrar hipopótamos não seria propriamente numa viagem à Colômbia que iríamos satisfazer essa pretensão. Porém, desde os anos 90 que os hipopótamos fazem parte da fauna daquele país sul-americano e tudo por causa do narcotráfico, nomeadamente da cocaína. Na verdade, a presença de hipopótamos na Colômbia tem uma origem bastante peculiar e está diretamente ligada à história do famoso narcotraficante Pablo Escobar.
Na década de 1980, Pablo Escobar, no auge do seu poder e riqueza, e à conta disso da sua excentricidade, importou ilegalmente uma série de animais exóticos para o seu rancho de luxo, a Hacienda Nápoles, localizada a leste de Medellín. Entre estes animais, que incluíam lamas, chitas, leões, tigres, avestruzes e até golfinhos, havia quatro hipopótamos (um macho e três fêmeas) que se tornaram as “estrelas” da sua coleção.
Após a morte de Pablo Escobar em 1993, a Hacienda Nápoles foi abandonada e a maioria dos animais exóticos foi transferida para jardins zoológicos na Colômbia. No entanto, os hipopótamos foram considerados demasiado grandes e perigosos para serem movidos de forma segura. Foram então deixados à sua sorte na propriedade sem vigilância.
Com o tempo, os hipopótamos conseguiram escapar da Hacienda Nápoles e encontraram um habitat perfeito nos rios e lagos da bacia do rio Magdalena, no noroeste da Colômbia. Este ambiente revelou-se ideal para a sua sobrevivência e reprodução, quer pela ausência de predadores naturais – ao contrário de África, onde têm predadores como leões e crocodilos, na Colômbia não enfrentam ameaças naturais –, quer pela abundância de alimento num país onde a vegetação aquática e terrestre é farta, mas também devido às condições climáticas favoráveis, num país em que não ocorrem secas sazonais como em África, o que permite a reprodução contínua ao longo do ano.
“Hipopótamos da Cocaína” viraram
um problema na fauna colombiana
Com as condições reunidas para a proliferação da espécie e sem inimigos naturais, a população de hipopótamos Colômbia cresceu exponencialmente. De quatro animais, estima-se que existam hoje mais de 160 hipopótamos selvagens na Colômbia, tornando-se a maior população de hipopótamos selvagens fora de África. Esta proliferação descontrolada transformou-os numa espécie invasora, gerando uma série de problemas ambientais e sociais.
Uma das questões com que as autoridades colombianas se debatem resulta do impacto ambiental que a presença desta espécie traz para o país. Os hipopótamos alteram a qualidade da água dos rios e lagos com os seus dejetos, o que leva à proliferação de algas tóxicas e pode prejudicar espécies nativas como peixes e lontras, entre outras espécies.
Por outro lado, os hipopótamos colombianos são actualmente uma ameaça à biodiversidade, isto porque competem com espécies nativas por recursos e alteram os ecossistemas aquáticos.
Há ainda a circunstância a ter em conta destes animas se tornarem um perigo para os humanos, isto porque os hipopótamos são animais territoriais e agressivos, havendo relatos de ataques a pessoas e barcos de pescadores. Por outro lado, as colónias de hipopótamos acabam por ser ameaças constantes às plantações agrícolas das aldeias.
Recentemente, em 2021, um tribunal norte-americano declarou a existência de direitos legais dos hipopótamos da cocaína, proibindo as autoridades colombianas de avançar para o abate desta espécie, uma decisão tanto mais polémica quanto o facto do governo colombiano ter dito desde logo que a decisão sobre o que fazer à espécie dos hipopótamos no seu território ser da responsabilidade das autoridades da Colômbia e não de qualquer tribunal dos Estados Unidos.
Perante tudo isto, o governo colombiano tem vindo a implementar medidas para controlar a população de hipopótamos no país, incluindo a esterilização cirúrgica e a possibilidade de transferência para outros países ou até mesmo, em casos extremos, o abate controlado. Estas soluções, porém, têm gerado grande debate público e obrigam a desafios logísticos e financeiros, pelo que os “hipopótamos da cocaína” deverão continuar a proliferar nos lagos da Colômbia, bem longe do continente africano de onde foram tirados pela excentricidade de um homem.
LusoNotícias
Loading ...
