A Taça de Portugal exige passagem, não exige beleza. E na Capital do Móvel, o Sporting lembrou-se desta máxima de forma dura e crua. Contra um Paços de Ferreira mergulhado nas profundezas da segunda liga e ainda sem uma vitória no campeonato, a expectativa era de um passeio triunfal. A realidade, porém, entregou-nos um pesadelo que durou 120 minutos e que só um desvio infeliz da bola por um dos capitães da equipa da casa para dentro da sua própria baliza conseguiu desfazer quando o marcador acusava um empate a dois golos.
A receita para a emboscada estava escrita: seis alterações no onze, a sombra do jogo com o Marselha e a pressão de quebrar uma sequência de dois jogos sem vencer. Os leões fizeram o que se esperava no arranque: impuseram um sentido único de jogo, transportaram a bola para o meio-campo adversário e cercaram a área do Paços. A posse era total, mas a efetividade… zero. E contra equipas organizadas e famintas, o perigo mora na transição. Aos 18 minutos, Lumungo provou-o: numa recuperação de bola, uma inversão de marcha fulminante, e um remate rasteiro que se colou à relva e passou por João Virgínia. A Mata Real explodiu com as gentes de Paços de Ferreira a festejar enquanto o Sporting ficava atordoado.

Foi preciso o espicaçar do golpe para o leão acordar. E quem melhor para liderar a revolta do que o capitão, Pedro Gonçalves? Num trabalho de espaço curto, Pote encaixou o pé esquerdo na bola e atirou-a, sem remédio, para as redes de Jeimes. A ordem natural parecia reposta, mas a desconfiança já se tinha instalado.
O intervalo não trouxe a serenidade necessária. Pelo contrário, a pressa em resolver o jogo levou a uma falta de discernimento que transformou o ataque leonino numa rotunda sem saída. E o Paços, pragmático e letal, voltou a castigar. De forma simples, Lumungo, desta vez como assistente, encontrou João Victor, que não perdoou. O castor voltava a mostrar os dentes, e o pesadelo de Alvalade materializava-se.
A resposta, mais uma vez, teve de vir de um momento de qualidade individual. Ioannidis, de cabeça, aproveitou uma saída hesitante de Jeimes num canto e, com precisão cirúrgica, restabeleceu a igualdade. Não houve festejos efusivos. A missão estava longe de estar cumprida e o nó em que o jogo estava transformado continuava por desfazer no final dos 90 minutos.

O prolongamento surgiu assim como o retrato de uma equipa a lutar contra os seus próprios fantasmas: domínio absoluto, mas um nervosismo palpável a cada decisão no último terço. O assédio era constante, à baliza de Jeimes, mas esta revelava-se uma fortaleza. Até que, no fecho da primeira parte do prolongamento, a sorte finalmente sorriu aos visitantes. Geny Catamo lançou um cruzamento perigoso para a área e, no caminho, o capitão do Paços, Tiago Ferreira, num acto de puro desespero defensivo, desviou a bola para a sua própria baliza.
Foi assim, por um autogolo, que o Sporting carimbou uma passagem que era obrigatória, mas que foi tudo menos tranquila. A imagem que fica é a de uma equipa pálida, com debilidades expostas na transição defensiva e um desacerto ofensivo preocupante.

Cumpriu-se o essencial, sim. Mas na noite da Capital do Móvel, o que devia ser um exercício de rotina transformou-se num aviso a ecos: na Taça de Portugal, não há adversários pequenos, apenas gigantes com a coragem de um castor.








